15 abril 2014

Gostava que o relógio parasse. Tic-tac. Sim o relógio - aquele onde passam todos os minutos, onde se vive intensamente cada hora com o som dos segundos - aquele que marca o tempo que é tão incontrolável. Mas não pára, e o tempo continua a passar. Tic-tac, tic-tac, tic-tac. Passa de forma tão rápida e incomoda que chego a nem senti-lo sequer. E ele bate as horas. E faz aquele pequeno clic a cada segundo. E continua. E não pára, nem volta atrás. Eu sei que ele passa, e deixo-me ficar aqui a vê-lo passar. Prefiro assim, e é por isso que  gostava que ele parasse, porque assim, estaríamos ambos parados, imóveis, à espera que algo nos fizesse continuar a viver os minutos. E tic e tac. E tac e tic. E revolto-me por ele passar tão depressa sem eu ter dado conta. Porque é que não parei antes mesmo que o tempo continuasse a passar? Se ele não pára, não muda, é sempre o mesmo, com a mesma intensidade e velocidade, porque é que eu não posso ser como ele? Ou melhor, porque é que tu não és como ele? Porque é que mudas se o tempo é o mesmo? Porque é que tens de crescer se o tempo não se altera e te faz sentir agora o mesmo que sentis-te no tic-tac anterior? Relógio pára. Pelo menos agora, só para eu poder pensar um pouco. - Tic-tac. - Pára, já te pedi que parasses, gostava que parasses, porque preciso, porque gosto demasiado do tempo em que vivi e não quero perder mais tempo sem viver. Porque vivo do tempo e o tempo cada vez se apodera mais da minha vida. Pára, deixa o teu tic-tac e experimenta ouvir o som do silêncio. Experimenta, tenho a certeza que vais gostar. Só te peço isto. Ou então que mudes o som de como passam os segundos e batem as horas. Até te deixo escolher, mas sinceramente preferia o teu silêncio veloz. Gostava, gostava mesmo que o relógio parasse.

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