02 junho 2014

E descubro-me todos os dias como se nunca me tivesse conhecido. Encontro-me todos os dias pela rua como se me visse pela primeira vez, e cumprimento-me a mim mesma achando ser uma desconhecida que me dá prazer cumprimentar todas as manhãs. E vejo-me novamente. Olho para o meu reflexo nos olhos que me olham fixamente e analiso com a mente os gestos que eu mesma nem chego a fazer. Tento decifrar o indecifrável a olho nu, e tento sair de mim para perceber o que se passava lá dentro. Volto a passar por mim na rua, volto a ver-me e a cumprimentar-me - ainda como se fosse a primeira e última vez - e despeço-me na esperança de nunca mais me voltar a ver. Tropeço em mim todos os dias, e revejo o reflexo da luz da minha pele em cada vidro, mas mesmo assim, cada vez que me encontro, descubro que afinal nunca me vi e que nunca consegui estar em mim.
Resta-me ganhar coragem para me conhecer e vontade para me entender. Resta-me deixar a cobardia e fazer algo mais para além de me cumprimentar. Mas até lá, vou continuar a andar e a sentir-me brisa do vento que arrefece todos os rostos vagueantes da rua. Depois disto sim, talvez consiga descobrir quem sou.

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